Wonderful World - There Is Always A Better Tomorrow: ESTABELECIMENTO DE COMIDAS ANTÓNIO.
Wonderful World - There Is Always A Better Tomorrow: Restaurante Antonio
Óbito | António Coelho morre com 77 anos, mas deixa legado na gastronomia portuguesa – Hoje Macau
O
fundador do Restaurante António morreu no domingo em Macau, devido a problemas
de coração. Para trás, deixa uma marca e um conceito inovador de promoção da
comida portuguesa na Ásia
Um pai, um amigo e
um dos grandes embaixadores da gastronomia portuguesa na Ásia. O chef António
Coelho morreu no domingo, com 77 anos, devido a problemas de coração, mas deixa
para trás um percurso profissional de quase 40 anos e uma influência que se faz
sentir em vários restaurantes e cozinheiros de comida portuguesa em Macau.
Nascido em
Portugal em 1948, o primeiro contacto de António Coelho com Macau aconteceu em
1970, quando teve de cumprir o serviço militar obrigatório de quatro anos. Após
dois anos, a terra ficou na memória, mas o futuro cozinheiro optou por
regressar à Europa.
Em Portugal,
começa por trabalhar na Segurança Social, mudando, mais tarde, para num
laboratório de análises clínicas. Foi nesta área que desenvolveu o gosto pela
gastronomia, não pelo trabalho, mas pelos vários almoços e jantares em
diferentes restaurantes. Cada vez mais interessado na cozinha, António decide
empregar-se, em 1984, num restaurante, onde admitiu ter aprendido a cozinhar,
de acordo com uma entrevista ao jornal South China Morning Post, de 2018.
Os primeiros anos
da nova carreira de António Coelho são passados em Portugal, onde desempenha
diferentes funções como gerente-administrador do restaurante Botequim do Rei ou
director do departamento de restauração do Grande Hotel da Curia. Em 1996, tem
a primeira experiência internacional, como director do departamento de
restauração do Hotel Trópico, em Cabo Verde. A experiência prolonga-se um ano.
Criação de um legado
Regressado a Macau
em 1997, António vai trabalhando durante 10 anos em diferentes espaços, como os
restaurantes Frol de la Mar, Lusitano, Lisboa, tendo ainda uma breve passagem
por Hong Kong, em 2002, no Restaurante Inn. No entanto, o passo decisivo para a
sua afirmação como um dos chefs mais influentes de gastronomia portuguesa na
Ásia surge em 2007, com a abertura do Restaurante António.
E o êxito que se
seguiu não foi obra do acaso, como contou Edgar Rodrigues, chef que veio para
Macau para trabalhar no lançamento do projecto: “O sucesso teve por base as receitas,
a qualidade da comida, mas também o muito profissionalismo”, afirma Edgar
Rodrigues, ao HM. “Ele estava muito atento aos clientes. Se houvesse um pedido
de amêijoas à bolhão pato, ele tinha receitas diferentes adaptadas à
nacionalidade. Por exemplo, os coreanos não gostam de coentros, a receita para
eles não tinha coentros. Os clientes chineses gostam de pouco sal, eram
servidos com pouco sal, e os locais gostam da receita mais tradicional. Num
único prato havia várias formas de cozinhar, só para satisfazer os diferentes
clientes”, recorda.
Também Cristiano
Tavares, actualmente chef do restaurante Macalhau, veio para Macau para
trabalhar no Restaurante António. Considera que o chef encontrou um
posicionamento para a comida portuguesa que ainda hoje influencia outros
restaurantes. “Acho que o sucesso se deveu à maneira de ser, era uma pessoa
politicamente correcta, tinha uma forma de trabalho que agradava tanto a
turistas chineses, coreanos como japoneses”, explicou Cristiano Tavares, ao HM.
“Éramos um restaurante de rua com quatro ou cinco cozinheiros. Ele conseguiu
fazer o que ainda hoje muitos restaurantes grandes não conseguem fazer. Hoje em
dia há muitos restaurantes com comida portuguesa que que abrem em Macau, mas
seguem o exemplo do que ele fez”, considerou.
Qualidade e espectáculo
Além da comida, os
clientes Restaurante António deixavam seduzir-se pelo “espectáculo”. É esta a
visão de Marcelino Marques, amigo de António e músico que durante vários anos
animou as noites do espaço, com música tradicional portuguesa.
“A qualidade da
comida fazia com que o espaço fosse popular. Ele tinha muito cuidado na escolha
da comida e das bebidas servidas. Ia a Portugal escolher vinhos de várias
regiões, como o Douro ou o Alentejo, todos com muita qualidade, que eram
engarrafados com a marca António. As pessoas sabiam que não iam pagar pouco,
não que fosse um espaço com preços de luxo, não era, mas a quantidade servida
não era pouca”, recordou Marcelino Marques.
Todavia, o músico
considera que o sucesso também se deveu a um conceito em que a refeição também
era um espectáculo: “As pessoas gostavam de ouvir a música portuguesa, mas
também de estar com o António. Ele era uma pessoa afável, grande e aparecia com
aquela jaqueta branca com as bandeiras de Portugal, China e Macau e as pessoas
gostavam da presença dele e pediam-lhe para tirar fotografias” conta. “Ele
também abria uma garrafa champanhe com uma espada. Fazia toda uma cerimónia e
as pessoas gostavam muito disto. Era um espectáculo e uma festa ver a rolha a voar
da garrafa. Funcionava bem”, lembrou.
Marcelino Marques
recorda que a comida e o espectáculo faziam com que o restaurante fosse muito
famoso, principalmente entre turistas japoneses, coreanos e de Hong Kong. O
músico revela que as marcações dos turistas nipónicos aconteciam com dias de
antecedência. E para este factor também contribuiu o facto de António oferecer
no final das refeições um cálice de vinho do porto, o que também levou ao
reconhecimento da Confraria do Vinho do Porto.
O sucesso do
Restaurante António fez com que o chef vendesse o espaço a um fundo de
investimento, passando a embaixador do espaço. A ruptura com o fundo aconteceu
em 2020, quando foi despedido sem justa causa. O caso acabou nos tribunais, com
António a vencer a causa. Nos últimos anos, António assumiu a posição de chef
executivo no Angela’s Café and Lounge, no Hotel Lisboeta.
Um pai, um amigo
Devido ao trabalho
em Macau, António foi distinguido, em 2013, pelo Governo da RAEM com a Medalha
de Mérito Turístico da RAEM. Também em 2015, recebeu a medalha de mérito das
comunidades portuguesas do Governo Português. No entanto, para quem trabalhou
com ele o mais importante foi a relação que ultrapassou o campo estritamente
profissional.
“Ele teve um
grande impacto em Macau e para mim foi como segundo pai. Quando vim para Macau
não tive uma vida fácil e ele sempre me deu a mão”, confessou Rodrigues. “Foi
sempre uma pessoa que esteve presente para mim. E sempre o encarei como um
homem de ferro. Em tudo o que ele fazia havia ali uma grande vontade”, apontou.
Este é um
sentimento partilhado por Cristiano Tavares. “O António é o meu pai em Macau.
Ele trabalhou até ao último dia, sempre com seriedade, honestidade e
integridade. É um exemplo para todos os chefs que estamos nesta área”, indicou.
Para Marcelino Marques a morte de António é a perda de um amigo. “O António foi a pessoa que me acolheu em Macau e era capaz de o fazer o mesmo com toda a gente. Ele era rigoroso e exigente, mas era uma pessoa excelente”, descreveu. “Toda a gente o conhecia. Era uma pessoa afável e recebia como ninguém”, completou.
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